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domingo, 9 de junho de 2013

Brasil 3 x 0 França

Chama a atenção o crescente número de manifestações sociais que acontecem cada vez com mais frequência pelo mundo. O maior exemplo recente é na Turquia, onde protestos antigovernamentais ocorrem há mais de 10 dias e já ganham ares de Guerra Civil. Citando exemplos mais próximos, tivemos também duas mobilizações no Brasil reivindicando o preço das tarifas do transporte público, sendo que uma delas, em Porto Alegre, resultou na reversão da decisão do reajuste de preço.

Eis que, na tarde deste domingo (09) foi a vez da cidade de Caxias do Sul mostrar sua voz.


Depois de A Primavera Árabe, Occupy Wall Street, lhes apresento, A Marcha da Maconha em Caxias do Sul:



Dizer que houve esquecimento por parte dos envolvidos em comparecer ao evento seria uma piada fácil demais. Por isso, vou apenas me ater aos fatos e tentar entender o porquê do fracasso retumbante.

No início da semana, fui informado por um amigo de que haveria a tal manifestação, e esse mesmo amigo sugeriu que a cobríssemos para o blog. Achei uma boa ideia, primeiro porque a cultura de adoração à cannabis cresce mais a cada dia, e segundo porque toda manifestação social merece destaque, independentemente de sua relevância. O simples ato de defender um ideal já é admirável em si.

Após um longo tempo à procura de informações (mesmo as mais básicas eram escassas), descobrimos que o evento estava sendo organizado via Facebook e já havia mais de 500 pessoas confirmadas. Repito: mais de 500 (quinhentas) pessoas confirmadas.O encontro estava marcado para as 14h de domingo, 09 de junho de 2013, no estacionamento da Prefeitura.

E no domingo, 9 de junho de 2013, às 14h, lá estávamos. Nós, e quase que somente nós. No entanto, ao chegarmos já nos deparamos com uma cena bastante promissora:

Pessoas abordadas eram negras. Foto: Pedro Rech

Em seguida, nos aproximamos do que parecia ser o núcleo da movimentação, onde algumas pessoas desmotivadas estavam sentadas. Na verdade, não sabemos ao certo se elas faziam parte da manifestação, pois nada as identificava. Nada.

Jovens ativistas prestes a tocar o terror. Foto: Mateus Frazão

Enquanto aguardávamos ansiosos, ouvimos um jovem discorrer com um amigo sobre todas as deficiências do sistema que o incomodavam. O cara segurava uma máscara do personagem "V" (tipo essa) e soubemos que era quem procurávamos e, portanto, ouvimos o que ele tinha a dizer. Confira:


Já que nem mesmo o nosso entrevistado parecia muito convicto que o evento pudesse se concretizar, esperamos "somente" até por volta das 16h para deixar o local, e a única movimentação que presenciamos nesse meio tempo foi a de skatistas não muito longe de lá, e a de policiais perdendo o interesse e abandonando a vigília.

Presenciamos isso também. Pessoas abordadas eram caucasianas. Foto: Mateus Frazão

Tentando, ainda assim, fazer uma cobertura minimamente decente, saímos a procura de alguns depoimentos de pessoas que não fizessem parte da "manifestação" (para contextualizar à elas, tivemos que inventar uma história de que estava ocorrendo uma mobilização pró-legalização da maconha na cidade, pura ficção). Eis que para nossa surpresa, nenhuma das pessoas se dispôs a opinar, sendo que a maioria disse não saber muito o que falar. Segundo um dos consultados, o conhecimento dele sobre o assunto se limitava a ter ouvido algumas pessoas "falarem mal, outras bem, mas a maioria mal". 

Ou seja, não é nem mesmo questão de preconceito, e sim falta de informação. Portanto, mesmo que o número de presentes tenha decepcionado os organizadores (organizadores?) do evento, a falta de iniciativa fez com que não cumprissem o menor, entretanto, mais importante propósito da marcha: divulgar a causa.

Mas, graças a um mecanismo do Facebook, estará registrada a presença nos perfis das mais de 500  pessoas que haviam confirmado sua participação, e, assim, os mesmos poderão manter seu status de ativistas transgressores. Sem nem mesmo precisar sair do sofá de casa, ainda puderam assistir a uma bela partida de futebol entre Brasil e França. E para os que compareceram de verdade, restou a decepção. Mas no fundo o ar de superioridade prevalece, e o orgulho compensa, afinal, pelo menos eles mostraram iniciativa. Assim, todos ficam felizes, ou talvez ninguém dê a mínima.

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